Por Mauro Werkema -Jornalista
Um destino turístico qualifica-se por duas condições absolutamente essenciais: a singularidade, exemplaridade ou raridade dos seus atrativos e a organização/qualidade dos seus serviços turísticos. A primeira condição é o grande diferencial de Ouro Preto, herdeira de um excepcional acervo histórico e artístico, representado por seu patrimônio urbanístico e arquitetônico, bastante preservado, obras de arte e singular história, o que lhe valeu três importantes títulos: Cidade Patrimônio Nacional, de 1933, concedido por Getúlio Vargas, o tombamento pelo IPHAN, em 1938 e o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, concedido pela UNESCO, em 1980. Quanto ao segundo atributo, podemos dizer que ainda não é uma cidade turística quanto à organização dos serviços de orientação e informação, recepção, acolhimento, organização urbana e sua mobilidade, recepção nos monumentos, adequação na oferta de serviços e por aí afora.
Esta não é uma opinião teórica ou distante. É a constatação real, concreta, vivida e experienciada por quem, no último domingo, dia 9, conduziu um grupo de 16 pessoas a Ouro Preto, maestros, cantores e dirigentes de ópera, visitantes ilustres, com boa formação cultural e elevado senso crítico. O passeio torna-se uma aventura, um esforço concentrado para evitar desacertos e contrariedades e que, afinal, atormenta e irrita. Se a beleza e o reconhecido e admirado valor artístico-cultural dos monumentos, a contemplação do casario em exemplar harmonia e suas belas fachadas, as igrejas e museus, agradam extraordinariamente ao visitante, por outro lado a impressão que fica da organização da cidade para receber o turista acaba por destruir qualquer boa impressão. A opinião final acaba sendo negativa, tamanhas as dificuldades, impedimentos, falta de acolhimento, de orientação e informação, em claro despreparo da cidade para com o visitante, que sente uma espécie de agressividade ou mesmo hostilidade. Vejamos:
Logo ao chegar, o simples ato de encostar uma van, na Praça Tiradentes, em frente ao Centro da Fiemg, somente para descer os passageiros, já se torna difícil, não há lugar reservado e um guarda municipal, sem maiores educações, já vai dizendo que é proibido, não pode, será multado. E não diz também onde pode parar ou onde estacionar. Será tão difícil definir um local para vans, transporte coletivo, que deve ser incentivado? Quem sabe garagens edificadas, meio subterrâneas, aproveitando os desníveis das encostas? Falta educação e informação, para que possam bem orientar o visitante que traz recursos para a cidade e que devem ser bem tratados. Em frente ao Museu da Inconfidência, um palanque, monstrengo na sua configuração e usurpador do belo frontispício, similar do Museu Capitolino, de Roma, impede a visão e a fotografia.
O assédio nas ruas é constante. Guias improvisados, sem registro e treinamento, embora a profissão seja regulamentada. Vendedores de pedras. Corretores de restaurantes e hotéis. Os menos avisados, sobretudo mulheres, se assustam com o incômodo, especialmente com as abordagens deseducadas. A informação, em geral, é falha e imprecisa e nunca completa como se poderia esperar de um destino como Ouro Preto, internacional. Deveria haver um posto turístico de plantão, destinado a orientar, atender e solucionar questões, sob a responsabilidade do poder público municipal. Não há disponibilidade de folheto único, folders ou cartazes. Não há práticas comerciais em uso em todo o mundo. Há hoje bons restaurantes e hotéis, mas a orientação é falha. E a mobilidade urbana é cada vez mais difícil. Há exceções, evidentemente, mas não muitas.
A Igreja de São Francisco, visita principal, fecha para almoço. E o funcionário desliga a iluminação no rosto dos visitantes para expulsá-los da igreja. Para onde vai o recurso obtido na porta, certamente suficiente para pagar uma melhor recepção? Compreende-se que a Rua São José necessita de obra publica. Mas não se pode compreender que a obra, que realiza intervenção relativamente simples, em cidade histórica, em via essencial ao traçado urbano, demore tanto. O que se configura é que não há uma política pública de turismo. Não há gestão turística nem boa relação público/privada, essencial nesta atividade para as cidades turísticas. Não há manutenção do treinamento já realizado, em inúmeros cursos, pelo Sebrae, Senac, Prefeitura e outros organismos, envolvendo os profissionais que lidam com o público. Nos dias de maior movimento, nos fins de semana, instala-se uma espécie de “salve-se quem puder”, no trânsito, no deslocar-se, na escolha de prestadores de serviço. Enfim, ao visitante mais esclarecido fica a impressão de que a cidade não gosta de turistas. Por todo isto é que o motorista da van, no final da viagem, confessa: Para nós, é o pior lugar para se trazer visitantes.
publicado originalmente em http://www.ouropreto.com.br/noticias/detalhe.php?idnoticia=5264. Acessado em 14/10/2011.
Achei o Texto oportuno, já que o Município recebeu o Premio Rodrigo Melo Franco de Andrade, pela gestão do patrimônio imóvel, e continua com os mesmos problemas anteriores ao dito planejamento: Crescimento desordenado, falta de assistência técnica, a pressão sobre as áreas naturais e a favelização aceralada dos morros. Mais que gestão precisamos de ação.