sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Pede-se uma política de turismo para Ouro Preto

Por Mauro Werkema -Jornalista

Um destino turístico qualifica-se por duas condições absolutamente essenciais: a singularidade, exemplaridade ou raridade dos seus atrativos e a organização/qualidade dos seus serviços turísticos. A primeira condição é o grande diferencial de Ouro Preto, herdeira de um excepcional acervo histórico e artístico, representado por seu patrimônio urbanístico e arquitetônico, bastante preservado, obras de arte e singular história, o que lhe valeu três importantes títulos: Cidade Patrimônio Nacional, de 1933, concedido por Getúlio Vargas, o tombamento pelo IPHAN, em 1938 e o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, concedido pela UNESCO, em 1980. Quanto ao segundo atributo, podemos dizer que ainda não é uma cidade turística quanto à organização dos serviços de orientação e informação, recepção, acolhimento, organização urbana e sua mobilidade, recepção nos monumentos, adequação na oferta de serviços e por aí afora.
Esta não é uma opinião teórica ou distante. É a constatação real, concreta, vivida e experienciada por quem, no último domingo, dia 9, conduziu um grupo de 16 pessoas a Ouro Preto, maestros, cantores e dirigentes de ópera, visitantes ilustres, com boa formação cultural e elevado senso crítico. O passeio torna-se uma aventura, um esforço concentrado para evitar desacertos e contrariedades e que, afinal, atormenta e irrita. Se a beleza e o reconhecido e admirado valor artístico-cultural dos monumentos, a contemplação do casario em exemplar harmonia e suas belas fachadas, as igrejas e museus, agradam extraordinariamente ao visitante, por outro lado a impressão que fica da organização da cidade para receber o turista acaba por destruir qualquer boa impressão. A opinião final acaba sendo negativa, tamanhas as dificuldades, impedimentos, falta de acolhimento, de orientação e informação, em claro despreparo da cidade para com o visitante, que sente uma espécie de agressividade ou mesmo hostilidade. Vejamos:
Logo ao chegar, o simples ato de encostar uma van, na Praça Tiradentes, em frente ao Centro da Fiemg, somente para descer os passageiros, já se torna difícil, não há lugar reservado e um guarda municipal, sem maiores educações, já vai dizendo que é proibido, não pode, será multado. E não diz também onde pode parar ou onde estacionar. Será tão difícil definir um local para vans, transporte coletivo, que deve ser incentivado? Quem sabe garagens edificadas, meio subterrâneas, aproveitando os desníveis das encostas? Falta educação e informação, para que possam bem orientar o visitante que traz recursos para a cidade e que devem ser bem tratados. Em frente ao Museu da Inconfidência, um palanque, monstrengo na sua configuração e usurpador do belo frontispício, similar do Museu Capitolino, de Roma, impede a visão e a fotografia.
O assédio nas ruas é constante. Guias improvisados, sem registro e treinamento, embora a profissão seja regulamentada. Vendedores de pedras. Corretores de restaurantes e hotéis. Os menos avisados, sobretudo mulheres, se assustam com o incômodo, especialmente com as abordagens deseducadas. A informação, em geral, é falha e imprecisa e nunca completa como se poderia esperar de um destino como Ouro Preto, internacional. Deveria haver um posto turístico de plantão, destinado a orientar, atender e solucionar questões, sob a responsabilidade do poder público municipal. Não há disponibilidade de folheto único, folders ou cartazes. Não há práticas comerciais em uso em todo o mundo. Há hoje bons restaurantes e hotéis, mas a orientação é falha. E a mobilidade urbana é cada vez mais difícil. Há exceções, evidentemente, mas não muitas.
A Igreja de São Francisco, visita principal, fecha para almoço. E o funcionário desliga a iluminação no rosto dos visitantes para expulsá-los da igreja. Para onde vai o recurso obtido na porta, certamente suficiente para pagar uma melhor recepção? Compreende-se que a Rua São José necessita de obra publica. Mas não se pode compreender que a obra, que realiza intervenção relativamente simples, em cidade histórica, em via essencial ao traçado urbano, demore tanto. O que se configura é que não há uma política pública de turismo. Não há gestão turística nem boa relação público/privada, essencial nesta atividade para as cidades turísticas. Não há manutenção do treinamento já realizado, em inúmeros cursos, pelo Sebrae, Senac, Prefeitura e outros organismos, envolvendo os profissionais que lidam com o público. Nos dias de maior movimento, nos fins de semana, instala-se uma espécie de “salve-se quem puder”, no trânsito, no deslocar-se, na escolha de prestadores de serviço. Enfim, ao visitante mais esclarecido fica a impressão de que a cidade não gosta de turistas. Por todo isto é que o motorista da van, no final da viagem, confessa: Para nós, é o pior lugar para se trazer visitantes.

publicado originalmente em http://www.ouropreto.com.br/noticias/detalhe.php?idnoticia=5264. Acessado em 14/10/2011.

Achei o Texto oportuno, já que o Município recebeu o Premio Rodrigo Melo Franco de Andrade, pela gestão do patrimônio imóvel, e continua com os mesmos problemas anteriores ao dito planejamento: Crescimento desordenado, falta de assistência técnica, a pressão sobre as áreas naturais e a favelização aceralada dos morros. Mais que gestão precisamos de ação.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Participação social é diferente de trabalho social . 1/2

o que é Trabalho Social? Para que serve? Quem faz?
O que é: o trabalho social  promove a mudança social, a resolução de problemas no âmbito das relações humanas e a promoção das capacidades e aptidões das pessoas de forma a promover o seu bem-estar. Utilizando teorias de comportamento humano, da morfologia urbana e de sistemas sociais, o trabalho social intervém nos pontos onde as pessoas interagem com os seus ambientes. Assim, o respeito pelos direitos humanos e de justiça social são fundamentais para o trabalho social.O desempenho do trabalho social  relaciona-se com a necessidade de resolução dos problemas sociais  com  foco em intervenção sobre os problemas das pessoas dentro do seu contexto ambiental, equacionando intervenções sistêmicas e ecológicas. Isto, porque os indivíduos são influenciados pelas forças de tudo do seu  entorno: familia, local de trabalho, grupos de referência, entre outros…
Para que serve: o trabalho social aplica os ideais humanitários e democráticos, buscando condições para a dignidade e equidade da pessoa humana. A sua intervenção consiste, sobretudo, no desenvolvimento de capacidades individuais, coletivas e sociais aos níveis cognitivo, relacional e organizativo.
Quem faz: o trabalho Social deve ser implementado por equipes pluridisciplinares de  profissionais de acordo com a demanda determinante, organizando as necessidades e problemas sociais, emocionais e econômicos das pessoas. Norteando politicas e aplicando programas públicos necessários e serviços  específicos de forma a satisfazer as necessidades da comunidade; proporcionando as comunidades e organizações acesso a identificação das suas necessidades; ajudar as pessoas a promover o seu funcionamento  e/ou pessoal através da disponibilização de serviços inexistentes ou do encaminhamento para serviços já em funcionamento;
segue...

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Muita coisa por nada.. O caso da Rua São José e os Problemas Urbanos de Ouro Preto. 1/10



Da Casa dos Contos ao Largo da Alegria, passando pela casa de Tiradentes, a rua São José é uma das mais charmosas vias de Ouro Preto. Uma das poucas ruas planas da cidade, ela é passagem para quem quer ir às igrejas do Pilar e do Rosário.

A rua sempre teve tradição de comércio. O Almanaque de Ouro Preto, de 1890, mostra que havia na rua dentistas, fabricantes de calçados, de mobílias, ourives, farmácias, fotógrafos, alfaiates, charutarias, restaurantes, duas casas de tiro ao alvo, colchoarias, salões de barbeiros, relojoeiros, negociantes de fazendas, de ferragens, de louças, de chapéus, de gêneros, de peixes e frutas, além do Depositário de Tecidos da Companhia Cedro e Cachoeira.

Hoje, a rua abriga os bancos Real, Itaú, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e HSBC. A Receita Federal fica no térreo da Casa dos Contos, o museu da moeda de Ouro Preto, onde morreu o inconfidente Cláudio Manoel da Costa. O tradicional Hotel Toffolo, com mais de 100 anos de vida, abrigou várias pessoas ilustres, como Pedro Nava, Afonso Arinos de Melo Franco e o poeta Vinícius de Moraes. Mais à frente, na casa onde nasceu o poeta Alphonsus de Guimarães, há o restaurante Chafariz. Na parte superior da casa, é possível comprar o tradicional licor de jabuticaba, feito pela bioquímica Maria José Trópia, a Zezé. Completam a lista de iguarias o Café & Cia e o restaurante Sabor de Minas.

Há ainda muitas lojas de roupas, de cosméticos, de artigos para casa, de móveis, de artesanato. E a tradicional loja do sr. Almiro Neves, com cerca de 70 anos de existência; uma das mais antigas da rua, assim como a Pharmácia Central, capitaneada pelo farmacêutico Almir Barbosa. A papelaria Kodak, do sr. José Gomes, é também uma das mais antigas lojas da rua.

As atrações turísticas da rua são a Casa dos Contos, a Ponte dos Contos, em cantaria, e a casa onde hoje funciona a Associação Comercial, Industrial e Agropecuária de Ouro Preto. Esta casa está no terreno onde teria vivido Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Segundo a lenda, quando demoliram a casa que se encontrava no terreno, encontraram moedas e barras de ouro, além de alguns documentos. Com medo, ele destruiu os documentos, e vendeu as barras de ouro. Não há comprovação desse fato, mas é mais uma bela história da rua São José.

Logo ali, quase no agitado Largo da Alegria, moram os rapazes da república Boite Casablanca. Anônimos ou não, desde que chegaram a Ouro Preto alcunham agora o apelido recebido nos primeiros dias de Bixo. São eles os responsáveis pela harmonia nas noites de cantoria. Animados ao som do violão, que se pode ouvir do topo da Rua da Escadinha, cortam a madrugada com as canções regionais e a Viola de Folia.

Era da sacada branca daquela casa que o Sinistro tomava conta da rua. Durante o dia ficava ali, cabeça pra fora da grade acompanhando os passos dos pedestres que em baixo passavam. Se a campainha tocasse, ele recebia quem fosse no pé da escada – com o humor que merecesse a visita, é claro! As mulheres, sempre bem-vindas, ele acompanhava até o corredor como quem dá o braço a uma donzela. Com sua capa sempre preta e os olhos azuis, tinha a expressão séria e respeitadora. Por preguiça, dormia até mesmo ali na sacada. A não ser nas noites de viola à beira da churrasqueira, onde mantinha a ordem e permanecia sentado ao calor do fogo, quase sempre aos carinhos de uma amada.

No bucolismo das primeiras décadas do século XX, a rua São José abrigava o mais animado carnaval de Ouro Preto. As pessoas iam para a rua para cantar e dançar ao som das marchinhas compostas pelos blocos carnavalescos. As laranjas de cheiro, confete e serpentinas e os até então inocentes lança-perfumes dividiam o espaço com famílias inteiras, que se divertiam nos dias de folia. Nos demais dias do ano, a rua era o ponto do footing, no início da noite. Moças e rapazes iam e voltavam pela rua, dando meia volta no Largo da Alegria. Geralmente era no footing o início dos namoros. Muitos viraram até casamento. O nome oficial da rua São José era Tiradentes, devido à tradição que afirma que o inconfidente tinha uma casa na rua. Afonso Arinos de Melo Franco, no livro Roteiro Lírico de Ouro Preto, comenta a duplicidade dos nomes da rua. “O poeta e eu subíamos, subíamos, sem saber nem para onde, tínhamos certeza de que estávamos na rua de S. José, mas as placas teimavam em dizer rua Tiradentes. Em Ouro Preto se passa essa coisa curiosa. O povo chama S. José à rua que a Prefeitura chama de Tiradentes. Já à rua que os poderes municipais crismaram de S. José o povo chama de Rosário”, diz


Fonte do texto: 
http://www.boitecasablanca.com/index.php?option=com_content&view=article&id=6&Itemid=5 http://ezerberus.multiply.com/photos/album/1087/1087


foto retirada de www.falaouropreto.com.br

A cidade assiste a mais longa obra de saneamento no seu centro, onde manobras judiciais, dúvidas e muita terra dividem espaço com a nossa rotina diária.
A cidade não pode ficar apenas focada em querelas minusculas e sim na solução do seus grandes problemas. Quando a Lei da Assistência Técnica de Engenharia e Arquitetura Pública sairá do papel?

Urbarquitetura

  • termo que se refere ao pensamento da coisa urbana, da distribuição racional, intencional, com tecnica sobre o território.